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Foto do escritorLarissa Morangoni

Para compreender as escolhas



Poder fazer escolhas melhora qualidade de vida?


Ellen Langer, professora e pesquisadora de Harvard, tinha essa dúvida. Conduziu um estudo de intervenção em Instituições de longa permanência para idosos com o objetivo de entender se um ambiente onde se oferece virtualmente nenhuma opção, tem impacto negativo sobre o bem-estar de seus residentes. Se esse fosse mesmo o caso, então as limitações globais desses indivíduos seriam pelo menos parcialmente reversíveis.


Ela e sua equipe acompanharam esses idosos por 18 meses com entrevistas e medidas comportamentais.


Para o grupo em teste, a equipe explicou sobre as possibilidade de planejamento pessoal das suas atividades, sobre a autonomia de autocuidado e deu uma planta para eles cuidarem. Para o grupo de comparação, a equipe continuou provendo todos os seus cuidados, servindo todas as suas necessidades básicas, planejando todas as atividades e deu uma planta que a própria equipe cuidava.


Os resultados foram claros: o grupo em teste apresentou mais autonomia, mais vitalidade, maior participação ativa, com sobrevida 50% maior ao final do trabalho em relação ao grupo de comparação.


Poder fazer escolhas sobre si tem implicações diretas no bem-estar e saúde global.


Trabalho da Ellen Langer AQUI.

 

Transição de poder de escolha: países da Europa oriental


A Dra Sheena Iyengar, professora da Universidade de Columbia, é a maior referência acadêmica no campo das escolhas. Ela tem um estudo interessante com voluntários da Europa Oriental no contexto de pós-transição para um modelo político-econômico democrático e capitalista.


O maior insight desse trabalho aconteceu fora das entrevistas, como ela conta em sua palestra para o TED Talks. Ela oferecia sete opções de refrigerante para os participantes escolherem (atitude de hospitalidade, segundo ela) e, pega de surpresa por um comentário espontâneo, percebeu que para aquelas pessoas em estudo - não americanos - as opções eram artificiais. Para pessoas acostumadas a um modelo de quase nenhuma escolha, todas aquelas bebidas eram só refrigerante, tudo a mesma coisa.



Eles não estavam habilitados a perceber diferença entre as opções.


Essa percepção cunhou sua compreensão de que o valor da escolha está relacionado à habilidade do indivíduo de notar diferenças significativas entre as opções. Essa habilidade é individual, mas tem muita influência cultural.


Para os americanos, diferenciar cada detalhe sutil entre produtos é uma questão maior de identidade do que de marca. Estar exposto a anúncios de múltiplas opções é um hábito sedimentado.


Mas para os europeus orientais em transição, a invasão de tantos produtos ocidentais era sufocante, paralisante, assustador. Eles não tinham a mesma preparação para lidar com tantas categorias de opções, e nem a mesma disposição para aprender.


 

Escolher por si tem influência cultural


Dra Sheena também conduziu um estudo muito revelador sobre a suposta necessidade de fazer uma escolha livre de qualquer influência quando o assunto é de repercussão pessoal.

Criou um estudo de intervenção com crianças americanas e crianças de descendência asiática. Para ambos, seriam usados jogos de anagramas para serem completados. Em um grupo de cada origem, a criança poderia escolher o livro e a cor da caneta usada. Em outro grupo, a professora escolheria os livros e a caneta e em um terceiro grupo, as crianças eram comunicadas que as escolhas teriam sido feitas por suas mães.



As crianças americanas desempenharam mais e melhor na atividade proposta quando tinham a oportunidade de escolher por si. O que é coerente com a suposição americana de que escolher livremente sobre si é sempre desejável, e que é importante manter sua escolha mesmo quando outros recomendam diferente. Nesse perfil não se considera a chance de um indivíduo estar errado / falhar, porque é dado espaço para reparação externa.


Já as crianças de descendência asiática tiveram resultados diferentes. Elas desempenharam mais e melhor quando eram informadas que a escolha havia sido feita por suas mães. Para a cultura deles, escolher não é só uma forma de definir individualidade, mas também de formar comunhão e harmonia. Acatar a sugestão de uma pessoa da sua confiança é uma excelente opção. Eles desejam a interferência da mãe e agem com mais confiança e empenho quando nessa circunstância. A pior performance delas foi quando a escolha foi direcionada pela pesquisadora, um desconhecido.


Nem todos lidam com escolha da mesma forma, com a mesma necessidade, com a mesma percepção. Todas essas variáveis tem influência cultural e resultam de níveis distintos de interdependência e valorização do coletivo.


 

Quanto mais opções, melhor a escolha?



Já vimos o caso de culturas não habituadas a muitas opções e a sensação de sufocamento quando expostas a elas.


Então não, mais opções não resultam em melhores escolhas! Existem outros motivos.


Barry Schwartz, assim como a Dra Sheena, também aborda o tema das escolhas evidenciando esse paradoxo: o excesso de escolhas deixa de ser um exercício de liberdade, passa a impor restrições, sofrimento.


Ele destaca alguns aspectos problemáticos dessa questão.


A paralisia frente ao excesso de opções é o primeiro. São tantos detalhes e, por vezes, tão sutis que fica difícil diferenciar. O desejo de encontrar a opção mais perfeita passa a ser exaustivo e assustador. Existe uma tendência a evitar fazer escolhas, para evitar a frustração da escolha “errada” (não perfeita).


Outro aspecto, diretamente relacionado ao primeiro, é o aumento desproporcional e insaciável da expectativa pela escolha ideal. Essa maximização acaba gerando ótimas escolhas objetivas, mas com percepção subjetiva insatisfatória. O resultado, qualquer que seja - e às vezes é ótimo - não parece atingir a expectativa inicial. A frustração aparece em todas as muitas oportunidades de escolha e fica intensificada pela culpa. O indivíduo passa a se sentir responsável pela falha da opção (a escolha foi dele).


Além da freqüente decepção com o resultado, existe o custo da oportunidade perdida. Se existem tantas opções, tão parecidas, é natural que qualquer insatisfação - por menor que seja - com a escolha feita remete ao detalhe da escolha não feita. O indivíduo fica preso na armadilha da reconsideração com arrependimento, frequentemente comparando o que poderia ter sido com o que é.


Barry diz que não sabe precisar qual é a quantidade mais saudável de opções para garantir liberdade sem causar sofrimento, mas ele entende que já passamos muito desse ponto.

Suas sugestões são: aceite o bom o bastante – pratique o satisfatório, e se comprometa com a escolha que faz, tente não voltar repetidamente todos os caminhos possíveis não percorridos.


 

É sempre melhor poder escolher?


Outro recorte importante desse tema é compreender essa questão.


A Dra Sheena propõe uma reflexão prática, outro estudo dela com Botti e Orfali. Entrevistou pais americanos e franceses viveram a perda de um filho por morte encefálica. Em todos os casos, foi tomada a decisão de desligar o respirador mecânico. A diferença foi quem decidiu o momento para isso. Nos EUA são os pais que dão a palavra final, na França é uma decisão médica.


O estudo tinha o propósito de entender se essa escolha afetaria a maneira que esses pais lidariam com a perda. Descobriram que sim.


Um ano após o ocorrido, os americanos manifestavam mais intensamente sentimentos negativos relacionados ao fato. Foram relatadas sensação de terem sido torturados pela escolha, sensação de ter matado o filho e a freqüente reconsideração da escolha com o “e se...”


Os pais franceses elaboraram de maneira mais saudável a perda, com muitos relatos de amadurecimento e crescimento pós-traumático (nova perspectiva de si e dos outros, maior interdependência, comportamentos mais sociais, novos significados e maior senso de propósito).


Volto no ponto inicial desse texto: fazer escolhas demanda preparo, habilidade, capacidade cognitiva e emocional de diferenciar as opções. Nem sempre somos os mais habilitados para uma decisão, mesmo que muito pessoal.


Perguntados se desejariam não ter escolhido, os pais americanos foram unânimes: não! Para a cultura deles é sempre melhor decidir (visão global).


 

Poder e escolha são necessidades de controle


Mais uma reflexão importante sobre escolhas. Um estudo no campo de liderança feito por Botti, Dubois, Rucker e Galinsky apontam para um elemento comum entre ter poder sobre as escolhas dos outros e escolher sobre si: o desejo por controle.


Dessa forma, poder e escolha ficam intercambiáveis. As pessoas parecem dispostas a trocar uma fonte de controle pela outra.


Se um indivíduo não tem acesso ao poder de influenciar outros, ele busca a satisfação dessa necessidade fazendo muitas escolhas sobre si – e desejando ter muitas opções. Essas muitas opções e escolhas são uma estratégia compensatória para satisfazer sua necessidade por controle.


O indivíduo que tem poder, e se sente poderoso, não manifesta desejo por fazer muitas escolhas, nem por ter muitas opções, já exerce controle sobre os outros.


Essa observação tem muitos desdobramentos. Para eles, incentivar o colaborador de menor poder em uma empresa a fazer mais escolhas sobre sua função é uma excelente estratégia para satisfazer sua necessidade de controle.


Eles sugerem maneiras de expandir o intervalo de escolhas aceitáveis para uma pessoa, e então satisfazer seu exercício de controle em um contexto saudável e de crescimento para si e para o coletivo (aqui você já percebeu que sair fazendo várias escolhas aleatórias e sem valor pode ser uma armadilha alienante para satisfazer o desejo de controle de maneira artificial).


Adam Galinsky incentiva escolhas flexíveis e criativas, que são possíveis através de comunicação aberta e honesta entre colaboradores, busca por perspectivas diferentes para entender possibilidades novas (mais opções), identificar os interesses / necessidades / valores dos outros também, foco nas próprias habilidades e paixões (para guiar e dar sentido às suas escolhas), humildade para pedir e ouvir recomendações e orientações.


 

Para refletir e aprofundar


Escolher é uma necessidade individual, com diferenças culturais e com alguns paradoxos que nos convidam a repensar nossa habilidade e disposição de diferenciar a qualidade e a quantidade de opções. Fazer escolhas vem sendo um exercício de liberdade e autonomia ou de insatisfação para você?


Revisão do livro “The art of choosing”da Sheena Iyengar AQUI

TED Talks Sheena Iyengar AQUI

TED Talks Barry Schwartz AQUI

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