"A disposição de se considerar competente para lidar com os desafios da vida e merecedor de felicidade" definição de autoestima do Nathaniel Branden.
Uso a abordagem de Tal Ben-Shahar, importante educador de Psicologia Positiva e estudioso de autoestima – que se embasou nas obras de Branden, Lovinger, Maslow e Rogers – para classificar três níveis de vivência da autoestima: 1- Dependente: quando o próprio valor é determinado pelo olhar do outro e a competência é uma comparação de resultados entre pessoas diferentes. Esse perfil de autoestima tem relação com comportamentos de arrogância, vaidade, hostilidade, instabilidade e perfeccionismo. 2- Independente: quando o valor é determinado por um padrão interno e a competência é uma comparação consigo mesmo em momentos diferentes. Esse perfil tende para comportamentos mais generosos, calmos e emocionalmente estáveis. 3- Incondicional: aqui entra um perfil de senso de si sem julgamento, sem comparação, nem consigo mesmo. O indivíduo assume posição de observador de si em atitude receptiva e gentil. Todos os estados são possíveis e aceitáveis. Não é feito condicionamento de desempenho por nenhuma métrica. Tal Ben-Shahar explica que podemos viver a perspectiva de si nos três níveis, em proporções diferentes. Geralmente, quando se mantém uma rotina muito atribulada, em automatismo, sem tempo para reflexão, vive-se mais a autoestima dependente. O tempo para si é o elemento mais importante para deliberar uma mudança de percepção e atitude para perfis mais maduros e saudáveis. O terceiro nível, autoestima incondicional, só é possível pela prática de atenção plena, quando de fato se aprende a observar seus conteúdos mentais sem julgamento e com gentileza - como se observa uma paisagem do alto de um balão, com a distância necessária para a apreciação do todo e ainda assim parte do cenário, sentindo os fenômenos em imersão.
Sobre responsabilizar-se.
Tal Bem-Shahar também enumera elementos fundamentais para compor uma autoestima saudável e escolho me aprofundar no ítem “responsabilizar-se” - assumir-se autor do próprio roteiro.
"It's up to you" (é com você) / "No one is coming to save you" (não espere que alguém venha salvar você) acrescenta Tal.
Boa autoestima é uma necessidade!
“De todos os jugamentos que nós recebemos em nossa vida, nenhum é tão importante quanto o que damos a nós mesmo” Nathaniel Branden.
“O pior mal que pode afligir um homem é que ele passe a pensar com desdém de si” Goethe.
De fato, baixa autoestima é associada com maior ocorrência de ansiedade disfuncional, transtorno depressivo, sintomas psicossomáticos (como dores atípicas), insônia, abuso de substância química, gravidez na adolescência, abandono escolar, violência e crimes.
Já a autoestima saudável está relacionada com maior resiliência, melhores relacionamentos e inteligência emocional.
O ponto que desejo abordar aqui é que além de alta expectativa sobre si, a boa autoestima demanda atitude!
Atitude para se proteger, para se posicionar com assertividade, para conhecer seus valores e manter integridade, para trabalhar na própria evolução e alcançar a realização do potencial de excelência que acredita ter. Todas essas atitudes passam por um compromisso de responsabilidade.
Na teoria de Steven Hayes, principal autor da Terapia de Aceitação e Compromisso (Acceptance and Commitment Therapy - ACT) responsabilidade pode ser entendida como habilidade de resposta (response-ability).
Gosto muito dessa sugestão! Especialmente porque fica subentendido um convite para investir no próprio processo de desenvolvimento de habilidades cognitivas e emocionais.
ACT é uma terapia cognitiva de grande ênfase comportamental. A sua sigla já diz muito sobre isso - ACT: atue/ação. Estudo essa vertente de intervenção terapêutica desde a minha residência de psiquiatria. Foi a primeira psicoterapia que me apaixonei e ainda uso suas ferramentas com muita frequência.
ACT é um chamado para o compromisso com uma vida de propósito, consciência, deliberação livre, flexibilidade, intuição aguçada, criatividade.
Ação responsável é a intersecção de ACT com a teoria da autoestima de Tal Ben-Shahar: "Autoestima é uma atitude. A atitude que o indivíduo tem com ele mesmo" O senso de autoria da responsabilidade é fundamental para a auto percepção positiva e comportamentos positivos.
Um problema comum da autoestima descomprometida com a responsabilidade de esforço é criar grandes promessas, mas com baixa realização (“over-promisse and under-deliver”). Essa combinação é bastante destrutiva. Está fadada a frustração, sensação de culpa, de ser uma fraude, insuficiência e impotência.
Responsabilidade não é culpa!
Quando falo em assumir responsabilidade por si, pela própria evolução, falo em um processo que inclui erros, perdas, mau julgamento, insegurança, medo, reparações, reconsiderações, aprendizado, amadurecimento e muita persistência. Às vezes, inclui colaboração profissional.
O ponto de partida - sua versão hoje – é cheio de sonhos e imperfeições (imagino). Todos os dias são pontos de partida! Sempre há o que desejar e o que aprender.
O mais importante para sustentar uma caminhada saudável rumo à realização das suas melhores expectativas é comprometer-se com sua criação.
Sem culpa, sem punição, responsabilizando-se por suas escolhas e habilidades de agora, com autoria livre e intuitiva da melhor versão que acredita ter. Essa é a equação da autoestima realmente saudável e propulsora de transformação.
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